(RE) EXISTÊNCIA E CONSCIÊNCIA: 200 ANOS DE QUÊ?

26 de setembro de 2022
(RE) EXISTÊNCIA E CONSCIÊNCIA: 200 ANOS DE QUÊ?

Maria Regina Bortolini – Antropóloga, professora e integrante da Comissão Científica da 28ª Semana Científica da UNIFASE/FMP .

No marco das comemorações dos 200 anos da independência, o país vive um desafio cívico e se pergunta: 200 anos de quê?

A noção de independência política está estreitamente relacionada a soberania e autodeterminação dos povos – estado de ser livre da influência ou subordinação de outrem e de decidir, por si mesmo, as questões que afetam sua própria vida. Quando os europeus aqui chegaram, encontraram povos independentes, soberanos, autodeterminados. No entanto, não confraternizaram com eles, mas os colonizaram.  A colonização se deu a partir de um modelo de expansão, dominação e exploração econômica, e de um projeto civilizatório. Não sem resistência, se perpetuou por quase cinco séculos estruturando aquilo a que nos acostumamos a chamar de Estado-nação modernos. Mas, será que a independência trouxe soberania e autodeterminação aos nossos povos? Infelizmente não. Afinal, a colonização histórica não terminou com a independência dos povos, pois, as relações de colonialidade não findaram com a destruição do colonialismo.

O colonialismo refere-se a dominação política e econômica de uma nação sobre outra. É um processo histórico que se finda com a descolonização ou independência dos povos. Já a colonialidade não está limitada a um período temporal específico mas, segundo Aníbal Quijano, ao contrário, denota a continuidade temporal de formas de poder, resultante da experiência colonial: a colonialidade do poder, do saber e do ser.

A colonialidade do poder é a continuidade mesma das estruturas e relações de poder que engendraram o capitalismo moderno. Na geopolítica global, a colonização garantiu a continuidade da dependência econômica, mesmo para aqueles que de forma mais ou menos revolucionária, conquistaram a sua independência política.

Mas o poder colonial não se ancora apenas na dimensão político-econômica. Há um poder simbólico que o sustenta. No projeto civilizador da modernidade a criação da noção de raça naturaliza os colonizados como inferiores aos colonizadores, justificando a usurpação de seu patrimônio, a negação de seus saberes e as múltiplas violências sobre seus corpos. A modernidade, portanto, está relacionada com uma subjugação epistêmica – colonialidade do saber; ancorada em racionalidades eurocentradas, que tomam o homem, branco, hétero como um universal e, por consequência, negam outras epistemes, outras culturas, produzidas por outros sujeitos e por outros povos.  Todos esses processos se encerram na racialização dos corpos, na colonialidade do ser. Afinal, a experiência humana não se dá num vazio existencial, mas a partir de um sujeito encarnado, corporificado. Na colonização, os corpos não-brancos foram desumanizados, escravizados, violados, consagrando a superioridade do corpo branco. Mas o fim da escravidão não pôs fim a negação sistemática dos corpos subalternizados. Estereótipos raciais foram revitalizados, políticas de morte foram atualizadas.

Vivemos hoje, portanto, uma profunda crise civilizatória. É preciso, nesse momento, descolonizar nossos povos, nosso pensamento, nossos corpos. Produzir uma reflexão crítica sobre esse sistema-mundo capitalista, patriarcal, moderno. Mais que isso, reconhecer como o racismo epistêmico sufoca e silencia nossas vozes. Compreender como o processo civilizador produziu e ainda produz sofrimento aos nossos corpos. Reinvindicar que as diferentes corporalidades que constituem a diversidade humana no Brasil possam existir, reexistir. Problematizar a construção de nossa identidade, reencontrar nossas origens afroindígenas, entrelaçar nossas diferenças e inventar novas possibilidades de (re) existência e consciência! Em tempos de desafio cívico é preciso ter consciência do que somos e queremos ser. Por um Brasil mais humano, mais justo e solidário!

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Estudantes extensionistas da UNIFASE/FMP e da Universidade da República (UdelaR), do Uruguai, participaram de uma vivência imersiva no Quilombo Boa Esperança, em Areal/RJ. Entre os dias 14 e 20 de julho, os alunos se dedicaram a ações de escuta, troca de saberes e construção coletiva com os moradores da comunidade quilombola. “Como extensionista uruguaio, vivenciar a relação que a UNIFASE/FMP constrói com a comunidade quilombola nos inspira a aprofundar o diálogo de experiências e saberes em uma perspectiva regional. A UdelaR reconhece a importância da colaboração e da complementaridade para refletirmos sobre o papel da extensão universitária nas sociedades do conhecimento do século XXI”, destaca Kail Márquez García, professor da UdelaR. A atividade fez parte de um projeto de extensão que já acontece há mais de um ano e teve como foco o fortalecimento de vínculos, o reconhecimento das realidades do território e o aprendizado sobre o cuidado em sua dimensão mais ampla — afetiva, social e política. Ao longo da semana, os estudantes foram acolhidos pelas famílias da comunidade, que compartilharam não apenas suas rotinas, mas também seus saberes e histórias. Ao final da vivência, os participantes realizaram uma devolutiva à comunidade, reunindo reflexões e aprendizados construídos de forma coletiva. “Foram dias de troca profunda entre o quilombo e a cidade, onde a beleza da cultura encontrou a dureza da desigualdade. Mostramos nossa resistência, nossas dores e esperanças, e plantamos em cada visitante um olhar mais humano e consciente”, explica Danilo da Silva Barbosa, quilombola. A iniciativa reforça o papel da extensão universitária como espaço de formação integral, valorizando o diálogo com diferentes contextos e promovendo experiências transformadoras dentro e fora da sala de aula. Na UNIFASE/FMP, a extensão é parte viva da formação — criando pontes entre saberes e territórios. "Vivências como essa nos lembram que a universidade não deve apenas formar profissionais, mas cidadãos comprometidos com a realidade social e preparados para escutar e construir junto", comenta a docente de Extensão da UNIFASE/FMP, Gleicielly Braga.