Especialistas europeus reforçam a importância da Psicotraumatologia e abordam diferentes métodos terapêuticos no tratamento de traumas
Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2022 aponta que uma em cada oito pessoas no mundo sofre de algum distúrbio mental, sendo ansiedade e depressão os sintomas mais comuns
andemia, guerras, desastres climáticos, como o ocorrido em Petrópolis em fevereiro de 2022, episódios de violência e outros eventos têm um efeito diferente em cada pessoa, podendo comprometer seriamente a qualidade de vida de um indivíduo. É por esta razão que é fundamental encontrar um profissional apto a investigar e atuar sobre as consequências psíquicas e psicossomáticas resultantes de um evento traumático.
"Um evento potencialmente traumático é aquele cuja intensidade afetiva é muito maior do que a capacidade do sujeito de poder reagir, devido ao elemento surpresa do acontecimento. A pessoa fica sem defesas, não sendo capaz de ter um certo controle sobre si mesma, e é tomada por uma constelação de emoções e sentimentos. Um evento pode ser psicotraumatizante para uma pessoa e não necessariamente para outra. Desta forma, a gente trabalha com a vivência subjetiva de um evento potencialmente traumático", explica a psicóloga Marília Dantas Van Gogh, coordenadora dos cursos de Pós-graduação em Psicotraumatologia da UNIFASE/FMP, com mais de 30 anos de experiência em prática clínica privada e em hospitais. Ela mantém consultórios particulares na Bélgica (Bruxelas), em Portugal (Ericeira) e nos Países Baixos (Haarlem).
O psicotraumatismo pode ser classificado como simples, quando se trata de um evento único, como um acidente, por exemplo; e complexo quando é frequentemente repetido e duradouro, como em casos de abusos, maus-tratos, violência conjugal ou parental.
Durante a conferência "Psicotraumatologia: Perspectivas e Intervenções", realizada na UNIFASE/FMP, o professor Erik de Soir abordou o tratamento de traumas complexos dissociativos. Segundo ele, os indivíduos traumatizados alternam entre episódios em que revivem seu trauma e aqueles em que eles estão relativamente inconscientes do ocorrido e evitam coisas que os fazem pensar na situação traumática.
"O trauma introduz uma dissociação como se houvesse duas personalidades distintas num só sujeito. Uma que leva uma vida normal, quando não está em crise, e outra com o sistema defensivo. Parte da personalidade evita qualquer possibilidade de reativar o evento traumático, então aparentemente há uma normalidade superficial", analisa Erik, que é doutor em Psicologia pela Universidade de Utrecht, na Holanda, e doutor em Ciências Sociais e Militares pela Real Academia Militar, na Bélgica.
Ainda de acordo com o professor, é o sistema de apego, o vínculo, que nos assegura uma vida psíquica estável e saudável, dando a base de uma regulação não só emocional, de ação tranquilizante, como também fisiológica, com efeitos positivos na frequência cardíaca, digestão, pressão arterial, tensão muscular, entre outros. Ele explica ainda como funciona a psicoterapia ligada a um trauma dissociativo. "A primeira fase é a da estabilização; a segunda, de confrontação; e a terceira, de integração", pontua.
O professor Philippe Vrancken, por sua vez, falou sobre a modalidade integrativa, ressaltando que os traumas alteram o funcionamento de uma pessoa em diversos domínios, o que pode resultar em quadros de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão, ansiedade, agressão, isolamento social, impulsividade, vícios e vulnerabilidade a doenças, por exemplo.
"É necessário fazer um mapa, um inventário do funcionamento do paciente em seus diferentes domínios. As pessoas que sofreram um trauma percebem o mundo de uma maneira diferente daquelas que não sofreram. Para elas, o mundo é um lugar de muito medo e ansiedade, o que influencia a maneira como ela pensa, seus sentimentos e emoções", indica o profissional que é pós-graduado em Psicoterapia pela Academia de Psicologia e Psicoterapia Integrativa e Humanista (Bélgica), Hipnoterapia, e Neuroterapia (Países Baixos).
A conferência contou ainda com a professora Bárbara Van Gogh, que relatou um caso de incidente crítico em uma fábrica, no qual um trabalhador foi eletrocutado e outros dois funcionários presenciaram o ocorrido. Ela reforçou a importância de imediatamente fornecer apoio emocional e psicológico às pessoas afetadas numa primeira intervenção, e de acompanhá-las durante o processo.
A professora Marília encerrou o evento contando um caso clínico de psicotraumatismo transgeracional, que são aqueles que estão ligados a eventos que o indivíduo não vivenciou diretamente, podendo ser anteriores a seu nascimento, mas que se manifestam durante a psicoterapia psicotraumática.
O evento abordou temas que serão aprofundados nos cursos de pós-graduação em Psicotraumatologia da UNIFASE/FMP, em parceria com a Academia de Psicologia e Psicoterapia Integrativa e Humanista (AIHP), da Bélgica, com certificação reconhecida internacionalmente. As inscrições podem ser realizadas no site da instituição: https://www.unifase-rj.edu.br/pos-unifase/cursos-de-pos-graduacao







