Aids e Odontologia: os avanços e os desafios no cuidado

1 de dezembro de 2020
Aids e Odontologia: os avanços e os desafios no cuidado

Dra. Claudia de S. Thiago Ragon
Cirurgiã-dentista e professora do curso de Odontologia da UNIFASE.

01Momentos de crise na área da saúde expõem nossas fragilidades econômicas e sociais, desnudando as desigualdades e revelando a falta de investimento e de ações efetivas em saúde pública.

As pandemias do novo Coronavírus, em pleno século XXI, e a da Aids, iniciada no século XX, nos mostram a necessidade de sistemas de saúde universais e adaptáveis às necessidades das pessoas. Para que se tenham respostas bem-sucedidas, são necessárias ações efetivas baseadas em evidências científicas, com financiamento, voltadas para os direitos humanos e em diálogo permanente com as comunidades.

Após 40 anos dos primeiros casos de HIV no mundo e mais de 75 milhões de infectados, a ciência trouxe respostas e um arsenal terapêutico, permitindo que as pessoas que vivem com o vírus HIV tenham uma expectativa de vida normal e com qualidade. No entanto, nem todos têm acesso às informações e ao tratamento adequado. Segundo a diretora executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, em sua mensagem pelo Dia Mundial da AIDS, o mundo ao responder ao Covid 19 não pode cometer os mesmos erros que cometeu na luta contra o HIV, quando milhões de pessoas em países em desenvolvimento, morreram à espera de tratamento. Acrescenta ainda que: “ somente a solidariedade global e a responsabilidade compartilhada nos ajudarão a vencer o Coronavírus, acabar com a epidemia de aids e garantir o direito à saúde para todos”.

Apesar de tantos avanços no enfrentamento ao vírus da Aids e outras ameaças à saúde, estigma e discriminação ainda representam grandes desafios a serem vencidos nesse campo.

Pesquisas a respeito de pessoas vivendo com HIV no Brasil confirmam que, apesar do longo caminho desde o início da epidemia, essa população ainda sofre com o preconceito e a desinformação. Os dados relacionados à discriminação nos serviços de saúde são alarmantes, manifestando-se principalmente através da negação de atendimento, atitudes de desdém, coação para realização de procedimentos ou violação de confidencialidade.

Apesar do progresso dos conhecimentos científicos, as concepções desenvolvidas em torno do HIV/AIDS, principalmente devido às interpretações equivocadas dos dados disponíveis nos primeiros anos da epidemia, acabaram causando sérias limitações e deficiências na abordagem estomatológica desses pacientes. Isso tem gerado dificuldades de acesso ao tratamento odontológico, impactando de forma negativa na abordagem integral desses indivíduos.

As medidas universais de controle de infecção, aperfeiçoadas atualmente com a pandemia de COVID-19,  sendo implementadas de forma adequada, tornam praticamente nulo o risco de a equipe odontológica adquirir o vírus HIV durante o atendimento.

Por outro lado, a literatura aponta para um grande número de profissionais de Odontologia que se mostram pouco informados sobre a infecção, transmissão e tratamento da AIDS, existindo um certo grau de resistência ao atendimento dos pacientes sabidamente soropositivos para HIV, bem como o uso de precauções adicionais, mesmo que documentada a sua ineficácia. Os dados também sinalizam que muitos estudantes de Odontologia relatam que não tiveram aulas suficientes sobre os temas ligados à HIV-AIDS, e a grande maioria não teve contato direto na clínica com pacientes portadores do vírus HIV, o que pode refletir numa indisposição posterior para o tratamento desses pacientes, além de um alto grau de ansiedade não justificável racionalmente.

Nesse sentido, ao apagar das luzes de 2020, quando ainda não atingimos o objetivo de acabar com a epidemia de Aids e vivemos esse momento de pandemia pelo COVID -19, que expõe vulnerabilidades sociais, repensar nossa atuação enquanto profissionais da área da saúde é de extrema importância. É preciso superar as contradições que permeiam a prática odontológica a respeito da Aids, ancoradas na dualidade entre valores e crenças, histórico e socialmente construídos, e a necessidade de enfrentamento do problema no dia a dia. A responsabilidade compartilhada, encarando de frente o preconceito, é a chave para trilharmos esse caminho e superarmos os desafios de enfrentamento às epidemias de HIV e COVID-19. Salve 1° de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids!

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Estudantes extensionistas da UNIFASE/FMP e da Universidade da República (UdelaR), do Uruguai, participaram de uma vivência imersiva no Quilombo Boa Esperança, em Areal/RJ. Entre os dias 14 e 20 de julho, os alunos se dedicaram a ações de escuta, troca de saberes e construção coletiva com os moradores da comunidade quilombola. “Como extensionista uruguaio, vivenciar a relação que a UNIFASE/FMP constrói com a comunidade quilombola nos inspira a aprofundar o diálogo de experiências e saberes em uma perspectiva regional. A UdelaR reconhece a importância da colaboração e da complementaridade para refletirmos sobre o papel da extensão universitária nas sociedades do conhecimento do século XXI”, destaca Kail Márquez García, professor da UdelaR. A atividade fez parte de um projeto de extensão que já acontece há mais de um ano e teve como foco o fortalecimento de vínculos, o reconhecimento das realidades do território e o aprendizado sobre o cuidado em sua dimensão mais ampla — afetiva, social e política. Ao longo da semana, os estudantes foram acolhidos pelas famílias da comunidade, que compartilharam não apenas suas rotinas, mas também seus saberes e histórias. Ao final da vivência, os participantes realizaram uma devolutiva à comunidade, reunindo reflexões e aprendizados construídos de forma coletiva. “Foram dias de troca profunda entre o quilombo e a cidade, onde a beleza da cultura encontrou a dureza da desigualdade. Mostramos nossa resistência, nossas dores e esperanças, e plantamos em cada visitante um olhar mais humano e consciente”, explica Danilo da Silva Barbosa, quilombola. A iniciativa reforça o papel da extensão universitária como espaço de formação integral, valorizando o diálogo com diferentes contextos e promovendo experiências transformadoras dentro e fora da sala de aula. Na UNIFASE/FMP, a extensão é parte viva da formação — criando pontes entre saberes e territórios. "Vivências como essa nos lembram que a universidade não deve apenas formar profissionais, mas cidadãos comprometidos com a realidade social e preparados para escutar e construir junto", comenta a docente de Extensão da UNIFASE/FMP, Gleicielly Braga.